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JOÃO E MARIA - A METÁFORA ENTRE O REAL E O IMAGINÁRIO
Data de publicação: 16/09/2009

A Fundação Cultural de Umuarama estará apresentando a peça Infantil "João e Maria", às 20h, amanhã (quinta) - Ingresso a R$ 7 JOÃO E MARIA - A METÁFORA ENTRE O REAL E O IMAGINÁRIO JOÃO E MARIA situa-se entre as primeiras experiências infantis com os contos de fadas. Talvez isso se deva ao fato da história ter como personagens principais duas crianças, o que permite maior identificação dos espectadores com as mesmas. O espetáculo (texto) inicia-se com uma situação problemática, que é o estado de carência dos irmãos simbolizada pela fome, tanto material (pois são pobres), quanto afetiva (são órfãos de mãe). Neste sentido, o papel da madrasta é decisivo para o agravamento do problema, na medida em que ela propõe o abandono das crianças na floresta. Sua figura não representa, pois, a mãe protetora, mas aquela que provoca a separação e rompe com a estrutura de dependência da família, propiciando aos meninos o enfrentamento do mundo desconhecido, simbolizado pela floresta. Viver em local estranho, longe da casa paterna, é para JOÃO E MARIA uma aventura nova, para a qual ambos não estão preparados. As crianças sentem-se desprotegidas e perdidas na floresta. Contudo, elas não podem permanecer na atitude passiva do sono. Como seu vínculo com o lar é muito forte, é sintomático que a primeira tentativa de solução seja marcar o caminho de volta com pedras, elementos de ligação e sedentarização. Seu retorno, entretanto, não representa sucesso, uma vez que se reflete na permanência no estado infantil anterior. A insistência da madrasta determina um novo abandono das crianças na floresta. Dessa vez a tentativa de solução é malograda pela ineficiência da ação das mesmas, o que significa que elas ainda não estão maduras, não têm condições de resolver situações difíceis. Por sua vez ao comerem as migalhas (miolos de pão), deixados no caminho pelos meninos, os pássaros rompem o elo familiar que liga as crianças ao mundo real da casa paterna. Como aves de presságio, apontam para novas aventuras no espaço mágico da floresta. São ainda os pássaros que funcionam como fios condutores, levando os meninos até a casa da bruxa. Os pássaros transmitem uma certa neutralidade, o que quer dizer que os acontecimentos futuros vão depender unicamente do comportamento das crianças. As aves são guias, mas não direcionam a ação. As conseqüências de todos os atos são inteira responsabilidade de JOÃO E MARIA. A casa da bruxa, correspondente mágico da casa paterna, é imagem do universo, centro do mundo. Ela oferece aos pequenos todos os elementos de que são carentes no lar. Sendo doce e gostosa, ela fornece-lhes o alimento físico e afetivo de que necessitam. E é nesse lugar de fantasia que eles vão encontrar solução para os seus conflitos. Enquanto a menina trabalha, o menino cria estratégias para livrar-se da morte. As crianças usam, portanto expedientes inteligentes e maduros para se salvarem, o que ocasiona o seu crescimento interior. É Maria, a menor e mais dependente dos dois irmãos, quem toma a atitude final para a libertação, empurrando a bruxa para dentro do caldeirão. O fogo toma aqui um caráter maléfico de destruição para a bruxa, sendo ainda o ingrediente decisivo para a reabilitação das crianças. O fato dos irmãos resolverem seus problemas juntos ressalta o valor da solidariedade e da cooperação nas relações humanas. O envolvimento dos dois resulta em troca de experiências, que reverte em crescimento pessoal. A saída da floresta implica na volta das crianças para o mundo real, agora amadurecidas pelas situações vivenciadas. Por isso, elas levam as jóias da bruxa, bens não apenas materiais, mas também espirituais, uma vez que simbolizam a riqueza interior advinda da experiência vivida. A restauração da ordem se dá em dois planos, com a eliminação da bruxa no universo da fantasia correspondendo a morte da madrasta no mundo real. Equivalente mágico da madrasta, a bruxa é também um elemento ambivalente, cheia de maldade e força, não é completamente má, pois possui os bens materiais e espirituais, representados pelas jóias, nem totalmente forte, já que é vulnerável, capaz de ser facilmente enganada e vencida. O abandono do maniqueísmo, tão comum nos contos infantis, que secciona o mundo em "BEM x MAL", é talvez um dos aspectos mais significativos da história. Mostrando a multiplicidade de caráter das personagens, os autores insistem na complexidade do espírito humano e na diversidade de sentimentos e intenções que instigam suas ações. Por outro lado, ao valorizarem a atuação das crianças, os IRMÃOS GRIMM apostam na sua capacidade de resolverem problemas e passam-lhes a mensagem de que através da experiência, se atinge o amadurecimento e a independência. A nova ordem familiar que então emerge, conta com a participação ativa dos pequenos, incentivados à reflexão e à ação. Em troca mútua de idéias com os adultos, as crianças também têm contribuição valiosa a dar para o sucesso das relações humanas. BASEADO NO CONTO DE: JACOB GRIMM & WILHELM GRIMM ADAPTAÇÃO E DIREÇÃO:WANDERLEI DOS ANJOS - DRT-12024-PR